O Mundo Muda

Ainda consigo me surpreender com certas coisas.Tarde de quarta-feira. Mc Donald's, mesa do canto. Eu, meu pai (conhecido popularmente como General) e meu irmão. Os dois saboreavam sanduíches enquanto eu roubava as batatinhas de meu progenitor, pois não se sentia bem e tinha vomitado no banheiro do estabelecimento. As razões são desconhecidas até então.

Em outro canto, um moleque de uns 7 anos estava empolgadíssimo com a refeição que iria fazer. Tanto é que queria contar todas as suas emoções para seu amiguinho Gustavo. Não haveria problema algum, não fosse a longa distância entre ambos, uma vez que Gustavo estava na fila do caixa para ordenar as refeições, junto com algum adulto.

- GUSTAVO, VOCÊ QUER SE SENTAR NESSA MESA? EU GUARDEI ESSA MESA, GUSTAVO! GUSTAVO! GUSTAVOOOOOOOOOO! VOCÊ QUER SE SENTAR AQUI?

Como a tentativa de comunicação estava se tornando extensa demais, ou seja, já havia alguns minutos que o petiz urrava pela loja. E eu já não tinha mais batatinhas para mastigar e aliviar minha tensão, uma vez que meu progenitor já tinha dado uma senhora bronca: "Pára de comer minhas batatinhas, porra! Vai comprar uma pra você! Ou melhor, pára de comer batatas, antes que você vomite de novo!"Delicaaado!

E o moleque lá, gritando com o Gustavo.- Que delícia, hein? Agradáveis esses berros! - resmunguei na mesa, enquanto tentava roubar uma colherada do sundae do sr. General.

- Beth, deixe de ser chata e implicante. O menino é uma gracinha!

Quase morri engasgada com o sundae.

- Como é que é?

- Você está ficando chata demais!

- Pai... se fosse eu nessa idade e estivesse gritando dentro do Mc Donald's, ou você quebraria meus dentes ou me amordaçaria no banheiro.

- Imagina. Jamais faria isso! JAMAIS!

Fiquei estupefata.Pior do que ficar de coração mole e achar engraçadinho um moleque gritando é negar o passado. Até porque sempre que eu resmungava que a criançada anda muito chata e mimada, e que costumam depredar estabelecimentos públicos, comerciais ou privados, o General sempre respondia:

- "Não é verdade. Meus filhos nunca fizeram isso!".

Mas é óbvio. Se eles começassem a encher a paciência, bastava o sr. General mostrar a autoridade que seu cargo lhe conferia e ameaçar contar até três. Betinha e seu irmão ficavam quietinhos. E agora ele nega. NEGA! Na cara dura!! Sem ao menos ficar vermelho!